Chutando uma bola ou fazendo um amigo, criança quer escola, criança quer abrigo.
Na hora do cansaço ou na hora da preguiça, criança quer abraço, criança quer justiça.
Em qualquer lugar criança quer o quê? criança quer sonhar, criança quer viver.
Agente quer, agente quer, agente quer ser feliz, CRIANÇA É VIDA.
— Toquinho, cantor e compositor

CRIANÇA NÃO NAMORA (E PONTO FINAL).

O título deste texto deveria falar por si só − não deveria precisar de explicações, provocações ou justificativas −, mas, infelizmente, precisa.

Sabe por quê?

Porque muitas pessoas acham bonitinho e engraçadinho a criança de 3 anos que chega da escola dizendo que o(a) fulano(a) é seu/sua namorado(a). E o pior: adultos, familiares e até professores reforçam a situação, perguntando, instigando e estimulando a criança no dito “namoro” ou achando bacana o(a) filho(a) ter 5 namoradas(os).

Criança não namora! Criança brinca! Então, você pode estar pensando: “Mas os pequenos brincam de namorar, assim como brincam de casinha e não veem maldade em trocar carícias, presentes e ‘fingir‘ que namoram”. 

As crianças podem não ter maldade, pois estão descobrindo o mundo, o outro, os limites. Agora, a situação é problemática quando o pai, a mãe, o avô ou qualquer outro adulto de referência, incentiva e valoriza um comportamento inadequado, pois, provavelmente, a criança o repetirá na tentativa de conseguir a aprovação e a atenção desse adulto.  

Por essa razão, cabe a nós, adultos, ajudarmos as crianças a compreenderem o que é próprio para elas e o que não é. É nosso papel colocar limites entre o universo adulto e o infantil e ensinar às crianças que existem coisas que só adultos podem fazer. 

Adultos namoram, crianças não;

adultos consomem bebida alcoólica, crianças não;

adultos trabalham, crianças não (não deveriam);

adultos escolhem o que assistem na TV, crianças não; adultos podem dormir no horário escolhido, crianças não.  

Esses são exemplos básicos de diferenças entre os limites da infância e do mundo adulto.

E mais: não é saudável a criança “brincar de namorar”.

Sabe por quê?

Porque ela está pulando fases, está direcionando a curiosidade para o corpo do outro, quando essa curiosidade deveria estar em seu próprio corpo e na descoberta do mundo que a cerca.  

Quando reforçamos essa situação, perguntando como está o(a) namoradinho(a) de nossa(o) filha(o) ou incentivando a criança a beijar o(a) coleguinha, estamos incitando a erotização infantil e tratando nossas crianças como adultos em miniatura.

Por isso, quando uma criança nos relatar que o(a) fulano(a) é seu/sua namorado(a) é nosso papel não instigar, não incentivar e, ainda, ensinar: criança não namora 

Podemos ir além e ampliar o nosso papel para a desconstrução da erotização infantil, vestindo nossas crianças como crianças; cuidando com o que elas ouvem e assistem; não reforçando situações de gênero; determinando os limites da infância (crianças não deveriam colocar piercing, usar salto alto, ter acesso a pornografia, etc.)

Criança tem que ser criança e, para garantir que isso aconteça, nós, adultos, precisamos desacelerar e resguardar a infância. Fica o meu convite! 

Fonte:

Aline Pinto
Pedagoga, escritora, palestrante, arteira de plantão e MÃE. 

Tags:

Criança, namoro, infância, brincar, adulto