Chutando uma bola ou fazendo um amigo, criança quer escola, criança quer abrigo.
Na hora do cansaço ou na hora da preguiça, criança quer abraço, criança quer justiça.
Em qualquer lugar criança quer o quê? criança quer sonhar, criança quer viver.
Agente quer, agente quer, agente quer ser feliz, CRIANÇA É VIDA.
— Toquinho, cantor e compositor

7 BONS MOTIVOS PARA LER PARA CRIANÇAS PEQUENAS !


Ser alfabetizado é diferente de ser leitor. Para ler um texto qualquer, é preciso que você domine a técnica de “decifrar” as letras e palavras — e isso depende de um aprendizado que, normalmente, acontece na escola: a alfabetização.

Mas ser alfabetizado não é o mesmo que ser leitor. A leitura é o aprendizado de uma técnica, sim, mas é muito mais que isso.

Ler é também uma prática social, um modo de estar no mundo. Quando lemos qualquer coisa, não estamos apenas decifrando as letras, o seu jeito de entender, mas atribuindo sentido àquilo que está escrito. E, certamente,  cada um lê à sua maneira, pois somos seres singulares.

Tornar-se leitor depende das relações que estabelecemos com o escrito. Como, quando, onde, por que e para que usamos nossa leitura. Quanto mais lermos coisas diferentes em situações diferentes, melhores leitores nos tornamos. Mais “letrados” nos tornamos, além da alfabetizados.

Assim é fácil perceber que não é da noite para o dia que viramos leitores. Mas seguindo a leitura deste texto você descobrirá pelo menos 7 bons motivos para ler em voz alta para crianças pequenas.

Algumas observações antes de mergulhar nos bons motivos para ler para crianças: Ler para crianças pequenas (bebês e até barrigas de qualquer idade estão incluídos) não é a mesma coisa que contar histórias para as crianças. São atividades muito diferentes e muito importantes em suas diferenças. 


Você pode contar histórias que aconteceram com você, com seus amigos e familiares, coisas que você ouviu outras pessoas contarem, “casos” que são contados por seu avô e o avô de seu avô...

Você deve valorizar o saber inventar histórias alegres, tristes e engraçadas, ou pode recontar oral, famosas histórias infantis como O Chapeuzinho Vermelho e Os Porquinhos e, com certeza,  cada um conta um pouquinho diferente. Toda essa variedade de formas de contar histórias pode ser praticada com total liberdade na sua expressão vocal, em que todos trocam facial e corporal.

Você pode usar músicas, desenhos, roupas e qualquer outro acessório que quiser para dar um colorido especial para suas histórias. Certamente, você já notou que algumas pessoas têm mais facilidade que outras para contar histórias...
LER é outra coisa: ler em voz alta é servir como ponte entre o livro e a criança. Como a pessoa que lê fica no meio entre dois elementos – o livro e o ouvinte –, muitas vezes chamamos o "ledor" de mediador, exatamente para diferenciá-lo do contador de histórias.

Ao ler, é preciso ser fiel ao texto escrito. Não dá para mudar as palavras. Isso não significa que sua leitura deva ser monótona e sem cor. As variações na sua voz, o ritmo da leitura, com sons e silêncios, vão dar cor e temperatura à leitura, fazendo com que o livro fique vivo. Agora, vamos aos bons motivos!

1. Ouvir alguém ler ajuda o desenvolvimento da linguagem falada.
Na leitura, oferecemos a linguagem. A criança ouve palavras novas e maneiras ainda não experimentadas de falar, de colocar as palavras em relação. Sons e imagens do livro ocupam espaços que a criança não poderia experimentar sozinha ou nas relações cotidianas. O livro abre uma porta para novas possibilidades de língua e linguagem.

Mas, e se a criança não entende nem metade das palavras que a gente fala? Pois é exatamente por isso que devemos ler e ler mais! Repare como falamos com bebês. As mães, especialmente, falam uma forma “fofa”, cheia de melodias.

Mas falamos sobre tudo: a comida, a troca de fraldas, o que pode estar acontecendo com o papai que não chega, como o preço das roupas está um absurdo e que cara de pau daquela vizinha que mandou um presentinho usado! Será que os bebês estão entendendo tudo isso?

Mas eles riem, olham, reparam, ouvem e, como por milagre, começam a falar e a falar cada vez mais. E logo, logo você pode vê-los brincando com bonecos e dizendo “Já falei mais de mil vezes que não é para a senhorita mexer no fogão”.

2. Ler para crianças pequenas facilita a aprendizagem da escrita.
Se a criança que ouve alguém ler pode aprender mais sobre como falar, com certeza pode também aprender muito sobre a própria leitura e escrita. A cada nova leitura, bebês de qualquer idade e crianças bem pequenas descobrem mais sobre as relações entre a palavra que sai da boca de quem lê, as letras no papel e a imagem das páginas que são lidas.

Quando lemos respeitando o texto, sem pressa, mas com entusiasmo, deixando que as crianças acompanhem a leitura e vejam as imagens do livro, elas podem aprender que existe um ritmo para a leitura; que é preciso esperar entre uma virada de página e outra, esperar o texto e a imagem.

Crianças bem novas já podem identificar, pela voz do leitor, quando é hora de mudar de página.  Deixar que elas ajudem a virar a página pode ser uma ótima ideia para que, desde cedo, elas participem da leitura e percebam seu corpo, ajustando seus movimentos ao livro.

Um exemplo: uma criança de 4 anos diante do banheiro feminino, onde estava escrito “Senhoras”, apontou o dedo para a palavra e começou a “ler”: banheiro!Repare e encontrará por aí mais crianças fazendo o mesmo. Isso não quer dizer que as crianças se alfabetizem sozinhas!

Algumas vezes elas até podem acertar, mas na verdade não estão lendo, estão apenas supondo e ensaiando, o que certamente vai ajudar na sua aprendizagem da escrita e da leitura.

3. A leitura compartilhada fortalece os laços entre pais e filhos, entre quem lê e quem recebe a leitura.
Há alguém que ouve e que fica atento para ouvir o livro lido pelo outro. Há alguém que lê e que usa sua mente e corpo para ser uma ponte para o livro.

Estamos falando de relação entre pessoas que, além de compartilharem o momento, passam juntas pelas emoções, aflições, alegrias e surpresas que o livro vai revelando.

Saber que o outro viveu os mesmos momentos me faz pensar: Ele sente o mesmo que eu? Ele pensa o mesmo? Conhecer o outro faz parte de aprender a conhecer a si mesmo. Conversar com o outro sobre o livro, os personagens, as sensações vividas na leitura, é uma forma de estreitar laços entre as pessoas.

4. O contato com diferentes textos dinamiza emoções e contribui para o desenvolvimento emocional das crianças.
O que acontece quando lemos textos diferentes? Cada um de nós sente de uma forma: tristeza, solidão, abandono, surpresa, medo, expectativa. O livro permite que se viva, pois deixar-se emocionar é estar vivo.

As crianças em geral pedem que se leia várias vezes o mesmo livro. Em cada audição, nova leitura, elas podem exercitar-se na percepção e controle das emoções, na previsão dos caminhos narrativos, na certeza do mesmo fim. A cada nova leitura enxergamos diferentes soluções, um detalhe desapercebido aqui, uma novidade acolá. Ler de novo nunca é ler a mesma coisa.

5. O contato com os livros estimula a curiosidade, a criatividade, o interesse em conhecer novos livros e o mundo.
Se você ainda não está convencido da importância de ler para crianças pequenas, temos ainda mais motivos... No item 1, vimos que as crianças usam o material que ouvem e que veem para construir suas próprias obras, lembra-se?

A criança que é exposta com frequência aos livros e leituras desenvolve naturalmente a curiosidade em saber o que se esconde por trás das páginas de um novo livro, já que sua experiência mostra quanta riqueza pode estar lhe esperando. A criança que gosta de ouvir os livros tem sede de livros.

Já a  criança que não está habituada à leitura pode ver o livro apenas como um objeto pedagógico, um instrumento de instrução e controle. Muitas vezes esse é o motivo do desinteresse das crianças pelos livros. Elas acabam achando que a leitura é chata, que os livros são enfadonhos, difíceis, impossíveis... Assim, os leem (e mal) por obrigação. Sem prazer.

6. Ler para crianças pode ser uma atividade relaxante para quem lê e um momento para conhecer melhor sua voz e seu corpo.
Voltando à ideia de leitura como gesto: uma ação dirigida ao outro. Quem lê usa seus olhos, seu cérebro, seus pulmões, sua laringe, sua boca e também o resto do corpo. Se ler é prazer, deixe que o livro leve seu corpo, que as palavras entrem e saiam de você. Saboreie as letras.

No início, pode ser estranho emprestar sua voz ao texto. Leia muitas vezes o mesmo texto, sozinho e acompanhado. Grave sua leitura. Ouça a gravação e anote suas impressões. Conviver de maneira insistente e pacífica com diferentes formas de usar a voz e o corpo pode fazer você descobrir novas formas de expressão.

Não esqueça: se quer fazer da leitura um momento agradável, você deve estar confortável. Sente-se e acomode-se. Mude sua posição, se for necessário. Perceba e elimine incômodos e tensões no seu corpo que possam atrapalhar. Finalmente, ajuste sua voz, para não se cansar e poder modular com facilidade. Respire sempre sem esforço e sem dificuldade. Você vai ver como o livro pode fazer bem ao seu corpo! 

7. As crianças pequenas às vezes usam trechos de histórias, de livros, para arranjar e rearranjar soluções das suas dificuldades.
Dos fragmentos de textos ouvidos, a criança poderá construir seus próprios textos. A criança que gosta de ouvir os livros tem sede de livros. E lembre-se: livros podem ser comprados, trocados, emprestados. Procure bibliotecas, exija-as; não abra mão de variedade e qualidade. Dê esta oportunidade às crianças: elas saberão aproveitar!

A leitura de bons livros é interessante e contribui para o desenvolvimento cultural também dos adultos.
Livros para crianças só servem para crianças? Determinar uma idade limite para um livro é diminuir a sua possibilidade de sempre ter um significado, e de modo diferente.

É certo que existem temas e linguagens mais ou menos interessantes para crianças de diferentes idades. Mas quem estabelece idades para um livro são as escolas e as editoras - não os autores dos livros.

Agora, uma última pergunta: Um adulto sabe tudo? Claro que não, e ler livro de criança é coisa de gente grande também, portanto, se você não tiver crianças pequenas por perto, não faz mal. Escolha um livro bom e leia para a criança que está dentro de você!!!

7 Bons Motivos para Ler para as Crianças Pequenas
Fonte:
Texto tirado do A Vida que a Gente  quer depende do que a Gente faz, diversos autores,  Instituto Ecofuturo.
Criança é Vida